A
Venancio Filho
Em vão tentais nos ocultar a chama
Que o vosso peito alastra e que o devora
Nós, as mulheres, fracas muito embora,
Sabemos ler no olhar do homem que ama.
No lábio que agitando-se descora,
Traduzimos a frase, que se inflama!
E muita vez no gelo se derrama
Fogo que o peito de afeição vigora.
O homem é assim inconsciente,
Sempre ostentando aquilo que não sente:
Quando jura um afeto está fingindo;
Quando se diz liberto, está cativo!
Ironia cruel! Por que motivo
Há de o homem viver sempre mentindo?