— “Venham, venham todos,
Jesus morreu na cruz
para nos salvar !
Venham, venham todos,
a ordem do Rei é comprar” !
Ruas engalanadas pela feérica iluminação;
vitrines agalinhadas, motivando a população,
a marchar no cadafalso, crediário-prestação,
engambelada pelo hodierno Espírito Cristão
— comprando, devendo, comprando —
enquanto à outros... sequer um pão.
— “É Natal, é Natal,
sinos de Belém;
Já nasceu o Deus menino
Para o nosso bem”!
— Comprem, devam, comprem!
Mensagens se cruzam, abraços se dão;
um velho gordo e balofo, espalha a grande ilusão,
vestido igual a palhaço, que desonra a profissão,
pois nem cambalhota ele vira,
vende somente mentira,
no mais novo Espírito Cristão.
… e um pouco mais adiante,
uma criança triste, anseia um pedaço de pão.
— “Noite Feliz!
Noite de Paz!
O pequenino nasceu
em Belém,
para o nosso bem”,
— Comprem, devam, comprem!
Famílias reunidas a trocar presentes;
remoendo mágoas no ranger dos dentes
em nome de um Cristo que sequer sentem.
Meia-noite. Missa do Galo
— todos entupidos, bêbados até o gargalo,
para se aturarem, em meio ao ababalho.
Graças pedidas, votos de longa vida
e tome bebida, tome bebida !
… festa dos animais ao rés do chão,
pois tudo pode, no atual Espírito Cristão,
menos ao que precisa de um simples
pedaço de pão…
— “Papai Noel deixou.
meu presente de Natal
— Comam, devam, comprem!
… até passar mal !
Ah… como vos desprezo Cristãos insossos;
Vocês e vossa hóstia consagrada : dinheiro !
Vocês e vossas verdades…
— Mas o que será “verdade” ?
…superlativo de green-paper ?
Vos desprezo pelo espírito do Natal,
que enfeita favelas — isso rende! —
põem sapatos nas janelas — mas prendem! —
e vendem, vendem, vendem…
Vendem Deus sem paciência,
afinal não tem influência,
com grana, compram indulgências,
dispensando a penitência,
no mais novo Espírito Cristão.
… enquanto outros, coitados,
não têm sequer um pão!
Ah… como vos desprezo Sacerdotes!
Lacaios do culto cujo Deus não lhes cobra,
as barbáries que emporcalham a história,
e ainda as obram por aí a fora.
Como vos desprezo Cardeais de voz em falsete,
que admitem, se submetem, obedecem qual cadetes,
aos generais-comerciantes de Papai Noel,
que em nome de Cristo, lá no Céu,
roubam, pilham, saqueiam e mentem,
no mais puro Espírito Cristão.
…enquanto a maioria paga e geme :
— “Queremos Pão! Queremos Pão”!
Como vos desprezo Pastores do Apocalipse,
suas Igrejas e Assembléias de crendice,
caçadores ávidos de dízimo
pregando o que disseram que Ele disse...
Não descuideis, Cristãos culpados;
Não segueis cometendo desatino;
Cuidado com esse atual espírito natalino!
Fecheis portas e janelas,
alerteis aos sentinelas,
pode haver confusão,
por este louco-novo Espírito Cristão…
— “QUEREMOS PÃO, QUEREMOS PÃO”!
Esses gritos, ó hipócritas (!)
não vêm do inferno, nem do porão.
Vêm da rua, vêm do Povo!
Olheis à janela —
no mais simples Espírito Cristão…
— “QUEREMOS PÃOOO,
QUEREMOS
PÃOOO” !
É o grito da fome, ó escrotos;
é a miséria, ó hipócritas de crucifixo
no
pescoço!
Correis agora;
…e você aí : — Se ajoelhe,
vá, peça pra Ele!
Jure, prometa, dê-se por inteiro!
Dispa-se de seu ouro, doe dinheiro!
Esfregue os olhos – pode ser um pesadelo!
…ou até uma visão!
— O que na rua se via,
não tinha Espírito Cristão :
— JESUS DE NAZARÉ
seguia,
à frente da multidão,
que caminhava humilde e trôpega,
a reivindicar no refrão :
— “QUEREMOS PÃOOOO!
QUEREMOS PÃOOOO”!