Ó amada:
pise meu coração e grite-me que vivo !
Tente arrancar de meu peito premido,
a elegia fracionada pela manipulação
da informática poluída !
Soluce-me preces que dilacerem-me,
rasguem-me;
Urge sentir alguma coisa —
a estagnação
me alucina,
a indiferença me enlouquece,
os homens param,
as odes findam !
Venha…
Carbonize-me com seus seios em
brasa;
a carne está desmitificada -
é gênero de segunda;
as estradas se bifurcam violentas;
o som é eletrônico,
o perigo é letal !
Ande…
Escreva com meu sangue
à Maiakovisk;
Desmorone em meus versos
os germens da dor;
As concessões chegaram ao máximo,
os homens se agrupam para se
desunirem,
ciências se
fundem para
confundir,
os jardins enlouquecem,
as músicas apunhalam;
o som é eletrônico,
o perigo letal !
Venha,
…escarre em meu rosto seu orgasmo
poluído.
O círculo me atazana,
preces
e protestos se misturam,
religiões e ideologias se fundem
para defecar regras.
Ó poderosa deusa minha,
venha!
Com seus poderes freudianos,
suas magias junguianas,
solicite-me!
Ordene-me!
A imorredoura chama — poesia!
—
necessita crispar-se,
eriçar-se,
ascender aos céus em súplica
e oferenda;
O som é eletrônico,
o perigo, letal!
Ó amada… desça até mim
e clame!
Preciso vê-la!
Enxergando a miséria,
serei capaz de exterminá-la.
Ó amada! Luz! Candura!
A esquizofrenia prostou-se
nos para-choques cromados
macro-proporcional.
Os miseráveis mijam
na esquina,
Gonococos
flagelam…
Ó amada… divino arquétipo!
Venha!…
choque suas nádegas em meu colo,
para que meu sexo vibre
e,
no tanger do êxtase,
possa cantar ao mundo a esperança!
Ó amada ! Venha… venha depressa !
O cio da juventude
está sendo exaltado
na TV
e o âmago dos homens oferecido
aos consumidores;
Mas a insônia se repete,
o som é eletrônico,
o perigo letal…
e é Carnaval !
Paolo Lim
Itaparica-Bahia
1968