Oitenta anos é a idade outonal do homem:
— as cãs, a seriedade, o respeito...
O vigor do espírito que,
sobrepujando todas as mazelas do corpo,
revela-se jovem no nosso aniversariante
incluindo-se, com ele, no rol dos "velhos-jovens",
é o responsável por esta sua força e energia
que a nós também nos contagia!
Nossa vida é um curto estágio,
em quatro tempos,
vivido e sofrido na terra,
que às quatro Estações do Ano se compara:
Na infância e adolescência somos a Primavera
— alegres e descuidosos...
Os folguedos,
as primeiras namoradas,
o início dos sonhos e das ilusões
nos refolhos mais íntimos do coração referto de
esperanças!
Na idade madura, depois dos trinta, somos o Verão
— ensolarados e ardentes...
Os encargos e tormentos,
as decepções e os sofrimentos
com o início da vida real, que é sempre prosaica,
sem sonhos nem fantasias!
No crepúsculo da vida, aos oitenta, somos o Outono
— um sol a caminho do arrebol...
o declínio,
o ocaso,
o começo do fim...
Mas ainda nos restam algumas esperanças!
Na suprema velhice, após os noventa, somos o Inverno
— alquebrados e tristes...
O fruto amargo da senectude:
a esclerose,
o desânimo,
a degenerescência física!
O fim, enfim, da despedida...
O último quartel da vida.
É nessa idade, quando tudo parece findo e acabado
que o homem sente necessidade de recordar, feliz,
os bons eventos do passado
como se seu espírito procedesse, na caligem do tempo,
meticulosa autópsia dos seus sonhos, esperanças e ilusões!
Sobre o monumento dos nossos sonhos
erigido noutra idade
sobre o alicerce do orgulho e da vaidade,
gemerão agora os ventos tristes
das noites silenciosas e desertas
arremeçando-o à voragem da implosão que nos rodeia
como a um frágil castelo de areia!
E, já cansados dessa longa caminhada
diuturna e sem trégua,
chegamos à última curva do caminho
e ao fim das ilusões com as quais sonhamos
e em cuja chuva por vezes nos molhamos!
No embate das marés contra os basaltos
nosso corpo sofre toda espécie de maus-tratos,
mas o espírito não se abate
e continuamos jovens com qualquer idade!
Uma ausência sentida nesta festa
se faz presença em espírito para todos nós
no coração e na lembrança:
dona Lourdes gostaria de estar aqui,
com os filhos e os amigos,
homenageando os oitenta anos do esposo...
Pelos oitenta anos que completa hoje,
parabéns para o ilustre mineiro,
nosso amigo, Wilson Loureiro.