Não era uma luta pela sobrevivência;
Não era uma luta pela saúde do corpo
Nem era uma luta pela salvação da alma;
Era, sim, a luta ignóbil e torpe da violência!
Era um filme de terror, para aterrorizar os fracos;
Era um filme de espanto, que aos medrosos espantava;
Os que lhe assistiam e não se divertiam...
Só Mateus com ele assaz se deslumbrava!
Brad Pitt e Edward Norton ainda estão na tela
Quando entra Mateus animado no cinema
E, com atitude de herói, lhes rouba a cena:
Primeiro, foi ao banheiro, mirou-se no espelho,
Querendo, depois, testar a arma,
Disparou um tiro contra a própria imagem!
Quando Matue no escuro metralhava
Sem ao menos conhecer ou ver a quem matava,
Chegaram alguns a confundir ficção com realidade
Pensando que os tiros eram de festim, vindos da tela,
Nao eram tiros de verdade!
Mateus encheu-se de vaidade:
Olhos fechados, atirando a esmo, fez três vítimas fatais
E outros cinco que, nos estertores da morte, agonizavam...
— Espetáculo dantesco que o insano prelibava!
Vinte e quatro anos...
Sextanista de Medicina prestes a se formar
— Um futuro brilhante
No horizonte da vida a se descortinar...
Comprou a arma:
Era uma metralhadora.
Há sete anos meditando Mateus fantasiou
Ser o herói desta cena que hoje protagonizou!
Dom Quixote teve idêntica fantasia:
Combatia moinhos de vento imaginários
Imaginando-se por eles perseguido...
E, da nobreza armado cavaleiro andante
Cavalgando o seu magro Rocinante,
Do seu caminho, à espada, os repelia!
Réu confesso, Mateus premeditou a chacina,
Agiu com perfídia:
"Eu ia comprar uma granada, mas achei
Que a metralhadora ia dar mais impacto na mídia"!
E implantou o pânico, ali, naquele cinema do Murumbi
Quarenta tiros disparados contra a platéia!
E a "boca-de-fogo" silenciou... O que houve?
Precisava substituir o pente.
Mas, de repente,
Renato Lucena saltou contra o monstro e o imobilizou...
Foram três minutos de agonia e dor!
Os pais queriam que ele fosse ao médico,
Foram seis anos de estudo jogados fora
Porque Mateus não se preparara para curar...
Preparou-se, sim, em sete anos, para matar!
Eis o preço da alta impunidade
Imposto pelo homem à sociedade
Onde a droga entre os grandes campeia livre...
Onde se mata e se fica em liberdade!
Às três perguntas do repórter
Deu Mateus três lacônicas respostas:
"Estou arrependido"
"Peço desculpas"
"Não estou com medo do meu futuro"
Mas deveria estar com medo, sim, quem causou à soicedade
Tanta maldade...
Pensei nas vítimas que perderam as vidas
E nas que ficaram feridas...
Pensei nas famílias, na dor dos pais que não arrefece...
E peçamos a Deus numa prece — pois só nos resta rezar,
Que lhes ensine a perdoar.