I
IN MEMORIAM
Lembrando São Francisco, "il poverello",
E a lição que este santo andou pregando,
A Musa verberou em verso brando
Do infortúnio o tristíssimo flagelo.
Da piedosa lição, o que era belo,
Sabia-lhe a amargura, e foi sonhando
Com o amor fraterno que ela andou forjando
Dessa imensa cadeia o maior elo,
Pois se o santo irmanara a Terra e a Água,
E o Bom e o Mau, deixara-lhe a lição
Todo amor pelo irmão em mar de mágoa.
E o infortúnio chegou-lhe em vendavais
Quando ela, que tivera um só irmào,
Morreu sem ser irmão de ninguém mais!
II
ÁRVORES DO ALENTEJO
Soberba alegoria: aos pés do Monte
A planície crestada, e as torturadas
Árvores ressequidas, revoltadas,
Pedindo aos céus a bênção de uma fonte,
Pois quando de ouro a giesta o sol posponte,
As árvores sedentas, nas estradas,
São apenas esfinges desgrenhadas,
Esqueletos mirrados no horizonte!
Esses versos são gritos dos que choram
A solidão que ela chorou, e imploram
Inutilmente lhes acabe a mágoa!
Chorai por ela, ó árvores! e vede:
Que quem gritou por vós, também com sede,
Morta de se de não precisa de água!
Vasques Filho
Do livro: "Bronzes e cristais", Editora Henriqueta Galeno, 1975, CE