comia e passava mal.
placas. tapumes. proteção.
99. encaro a última noite.
queria ver de novo 900, o filme.
sem lucidez mínima, olho a casa.
não quero ver 1984, o filme.
carrego o 52 por certidão.
lançamento.pedra sobre pedra.
esperança à mão-2000.
nunca o sempre me sobressaltou como hoje .
comia e passava mal.
chorei vendo a geada no dia de aniversário.
a bruxa sempre era eu.
Passeios de domingo.
comia e passava mal.
nem pipocas.
o banco do ford francês era de couro.
esquecia de pôr calcinha.
o carro roncava e eu cochichava p’ra mãe: esqueci.
a surra de esguicho.
o chapeuzinho de penas,único presente do pai.
pollyana me fez sofrer.
a falta de sono no porão.
a casa era só porão. depois subiu. cresceu. varandas,
duas.
só o quarto da frente tinha duas janelas.
eu cresci um pouco.
a casa tinha cheiro de tinta nova.
a rua, nada. terra, árvores grandes.
a casa-baú.
terrenos baldios.
única guerra de mamonas.
a roda florida do tapete era o inferno.
o avião era fogo só. vimos da varanda da vó: sobrou
ninguém.
muitas casas até igreja na rua larga.
a casa serviu até muito.
papai se acabou. 1961.
nem viu que lindo
sala de jantar e o bairro inteiro
velando seu sorriso na mesma sala
onde aos domingos recebia clientes.
com martini doce.
a mãe adoeceu. em 99.
sempre ficou vazia.
e a irmã mais velha: o pai morou sempre nela.
só agora mudou-se.
hoje é sempre.
1 dormitório. sonho 2000
pequenas prestações, em 99
e a irmã mais velha: olha, nosso quarto já não
existe mais.
dormir. em 99.