Homero de Miranda Leão
Foi minha mãe a minha Mestra
que me ensinou a ler, em nosso humilde ninho;
e eu era um menininho,
uma criança...
De minha mãe, exímia trovadora,
é de quem guardo esta divina herança.
Recordo agora,
que a sua voz se erguia,
branda e sonora,
como se fosse um sino
tangendo na alvorada fria
do meu Destino:
— Lê! Estuda! Lê, menino!
Era este o heróico estribilho
de cada dia:
— Lê! Estuda! Lê, meu filho!
Como era bela a minha Professora,
no seu vestidinho branco!
O coque alto, olhos castanhos
e esguias mãos da Virgem Redentora!
Somente agora sinto, e guardo, e tranco
no peito esta saudade imorredoura,
como se ouvisse, ainda, a sua voz sonora:
— Lê! Estuda! Lê, meu filho!
E eu que jamais velara o meu Destino,
quanto sofro e me deploro
para cantar minha procela...
E nem sabia, que um dia,
eu sentiria,
tanta saudade dela!
Do livro: "Iluminuras
da Tarde", Ed. Blocos, 2001, RJ