o pão que comemos
nele não vemos
os imensos trigais
as águas dos rios
dos lagos
dos mares
a tempestade e o furor
a gota de orvalho
que jaz numa flor
— nem isso não vemos
os filhos a terra
a estupidez de uma guerra
a doença e a fome
os desenganos e os sonhos
e a nossa mão
que não toca no ombro
do nosso irmão
— disso também nos olvidamos
para esquecer
o tempo que vai
o cansaço do dia
comemos o pão
quietos na mesa
tendo certeza
que nele não vemos
os imensos trigais