Nasci no rame-rame das abóboras.
Meu plano é horizontal. Vivo de cócoras.
Se me ergo, me espatifo. A gravidade
colou meu ser ao chão: cresço à vontade.
A crosta é dura. No corpo volumoso
a polpa é só fartura e paga o esforço
de rastejar como uma tartaruga
e refletir ao sol minha armadura.
Uma fome objetiva me devora
como a dos porcos que não comem pérolas
ou a dos pobres que não comem porcos.
Com ou sem sal, metáfora ou pletora
viro alimento no momento justo.
Ao fogo brando e lento mais me aguço.
Não sinto a tentação das ramas altas:
maracujá, chuchu, nada me exalta.
Nem mesmo a solidão das uvas verdes
quando o desdém dos homens as prescreve.
No ventre universal ocupo um espaço.
A vida faz-se em mim. Vegeto, e passo.