Muros altos do abandono.
Bati com punhos cerrados:
não havia entrada em teu sono.
Céu claro, turvo, que importa?
Não havia entrada em teus sonhos,
sonhando a portas fechadas.
Siderada de promessas,
de telefonemas, cartas,
busquei consolo em tua sombra.
Consolo, encontrei nas pedras.
Sofri desespero, raiva,
solidão, mágoa, suborno.
Vaguei sem mim uma década.
Ingenuamente esperava
que viesses em meu socorro.
Teu jardim não deu pousada
à fadiga com que vim.
Não havia entrada em teu horto.
Enlouquecida, exaltada,
já de ciúmes incendiada,
tomei distância. Escalei-te.
Transpus-te: não havia entrada.
Não havia entrada em teu corpo
alheio às minhas pegadas.
Não havia nem mesmo frestas.
Não havia sequer saída
em tua vida escancarada.
No espelho em que eu te mirava
nenhum reflexo havia.
Não havia, de resto, nada.