Vago, sozinho, rua afora. Paro
Junto de uma vitrina. Fico atento
A olhar uma boneca, que é portento
De forma escultural — trabalho raro.
E, enamorado dela, em pensamento,
Culpo-me de deixá-la ao desamparo;
Eu devera no amor ser mais avaro
E levá-la comigo num momento.
Preso então a essa mágoa, que me doma,
Muito mais me aproximo da redoma
— Nicho da imagem que me dá conforto.
A noite desce. Fecha-se a vitrina,
Mas a boneca trago-a na retina,
Como o símbolo do meu sonho morto.
Edmundo Antunes
Enviado por: Diógenes Pereira de Araújo