Lembra-me: -numa tarde esfumaçada e fria,
Ela veio mirar ao pé da minha porta;
Por certo atravessara a velha cerca da horta,
Fugindo com pavor da aspérrima invernia.
Era uma gata, sim, mas isso que me importa?
Era um mísero ser que a salvação pedia;
Ainda muito nova, um mês é o que teria,
De sede e fome estava a pobre quase morta.
Sob o meu tecto amigo, o espaço de sete anos,
Ela sempre viveu na paz de uma ventura,
Não sabida talvez de todos os bichanos.
Morreu! Não sei dizer a mágoa que me invade!
No fundo do quintal abri-lhe a sepultura
E no meu coração plantei-lhe uma saudade...
Edmundo Antunes
Enviado por: Diógenes Pereira de Araújo