Há sempre uma razão em cada gesto
e em cada frase um pouco de protesto,
que deixa triste quem caminha só,
como se fosse, à margem de uma estrada,
a pedra bruta, inerte e desgastada,
acariciada apenas pelo pó.
Há sempre uma razão rondando a porta
de quem alcança o riso que conforta
e, como eu, engana a própria dor,
como se fossem passos de um espinho
ferindo a folha, em forma de carinho,
para viver mais perto de uma flor.
Há sempre uma razão no riso triste,
que no meu dia entardecido existe,
emoldurando o meu olhar magoado,
como se fosse a máscara ferida,
de uma alegria que viveu perdida
na face do palhaço mais gozado.
Há sempre uma razão quando eu componho
e o verso traz depois de cada sonho,
um pouco da tristeza tão antiga,
como se fosse a árvore agitada,
que o vento deixa toda desfolhada,
privando alguém da sua sombra amiga.
Há sempre uma razão quando meu canto
embarga minha voz farta de espanto,
e se transforma no meu grito incerto,
como se fosse a voz de um passarinho,
cantando o sonho de voltar ao ninho,
a transformá-lo em pássaro liberto.
Há sempre uma razão nos sofrimentos
de quem, amando em todos os momentos,
se apega, mais às horas de sofrer,
como se fossem ondas espumantes,
que vêm beijar areias escaldantes,
voltando ao mar, depois, para viver.
Há sempre uma razão na fantasia
que envolve humildemente a poesia,
descortinando ao mundo suas imagens
como se fosse o pão de cada dia,
a terna oferta onde o poeta envia
o seu amor em forma de mensagens.
Perez Filho
Enviado por: Diógenes Pereira de Araújo