Não apareça ao público o tumulto
Das paixões — todo o incêndio que em mim lavra:
Seja, ardendo em revoltas, a alma escrava!
E chore ou cante o coração, oculto!
Leve, a todos sorrindo, sempre o vulto
Sereno e esconda a angústia humana e brava:
Riem da dor! E à mofa a dor se agrava...
Não saibam se eu crimino ou se eu indulto...
E eu seja na miséria um invejado!
E o ódio e o ciúme e o desprezo e o amor traído
Façam-me sempre um triste e um desgraçado...
Mas rujam bem no fundo e de tal jeito
Que não saibam que há um pélago, contido,
Soluçando e bramindo no meu peito!
Rodrigues de Abreu
(Publicado no “O Município”, em 07.03.1920)
Enviado por: Diógenes Pereira de Araújo