Hoje os ricos amanheceram mais ricos.
E os pobres, mais pobres.
Ontem os ricos compraram o banco dos pobres.
Hoje o pobre amanheceu na fila do banco para ver seu
pobre dinheirinho – visita de hospital. Silêncio. Suspiro.
Certo alívio. Não morreu ainda.
Hoje os ricos estão mais ricos. Mas não mais felizes.
Ainda é cedo para contabilizar os ganhos. Apenas no
ar os clarins da vitória sobre outros ricos que não ousaram
mais para ser donos dos pobres.
Ontem os pobres iam para o banco e em cada extrato
viam um bilhete de loteria. Sempre com zeros a
menos para tirar o prêmio maior.
Hoje os ricos tiveram mais um sonho de consumo consumado.
Olhos gulosos diante da vitrina cheia do minguado
dinheiro do pobres. De grão em grão.
Dinheiro que não é nem troco no montante que foi comprado.
Mas que faz correr o sangue nas veias dos ricos pelo
que pode vir a ser. A sempiterna humilde contribuição
do pobre
para o bolo dos ricos.
O pingadinho do fim do mês. A quirera. A prestação
do sofá não
paga. O humilhante empréstimo chorado na mesa do gerente.
– Juros e arrocho, seo João! Mas não se assuste, sai
na pressão alta,
na conta do médico.
O medo do ladrão: – Dinheiro mais seguro no banco, Dona Maria!
A poupança-esperança de casa própria.
Benditos ladrões do dinheiro dos pobres – diz o rico no espelho.
Cães treinados pela fome – mantêm as ovelhas no rebanho.
Hoje é um dia de céu azul pintado de ouro para os ricos.
Mesmo com a chuva de incertezas sobre os pobres.
Hoje o todo-poderoso gerente do banco dos pobres acordou
humilde aos pés do novo todo-mais-poderoso dono.
Acabou seu olhar de águia nos olhos fundos do pobre.
Funcionários limpam gavetas da memória – bons tempos
não voltam
jamais. Enchem de lágrimas a correnteza da própria conta
bancária futura.
Ontem os ricos praticaram o comunismo semântico-humorístico.
Bateram o martelo e o banco dos pobres foi-se.