Para Oswaldo Lamartine
Nela reverencio a indumentária
que traz de tempos imemoriais:
a blindagem de animal pré-histórico
(avesso à carícia, ao toque
recolhido)
— aristocrático!
Relevo de cerdas duras,
acidentes geográficos, minúsculos
lagos,
protuberâncias (por certo vulcânicas),
carrega no seu couro —
lembrança da terra inóspita
de origem.
Ah, como se protege!
Insólitas linhagens a aproximam
(no que ambas têm de urna)
talvez à tartaruga,
mas as pequenas cristas de heroísmo
(por todo o corpo erguidas)
a família dos sáurios indicam
como ramo aproximado —
raiz por certo vizinha
na extensa mataria da história natural.
Para que garras,
quando se tem visgo?
A fruta se defende com o ataque alheio
(no arcaico estilo das lutas marciais):
se os dedos seu escudo fraturam
(antes mesmo que alcancem
o que promete o perfume)
o látex faz deles sua presa
— passarinhos agoniados numa iminência,
chafurdados na vertigem da luz nascente.
Amo esse mistério, essa desmesura,
todo o aparato bélico
com que aferrolha os úmidos refrigérios:
seu hímen de doçura.
Maria Lúcia Dal Farra