Num longínquo lugar da África do Sul
foi garimpado o maior diamante do mundo.
Poucos viram o parto da terra exausta.
Mas a notícia correu o mundo na velocidade
da luz que a gema, mesmo em estado bruto, irradiava.
No Paquistão souberam, na Argentina
bocas se abriram, no Alasca olhos rebrilharam.
Cobiça no Japão, inveja na Suíça.
Sultões ofereceram desertos inteiros de ouro,
marajás viram seus feéricos palácios esmaecerem.
O diamante foi lapidado pelo mestre maior do
planeta durante uma década. Cada faceta era um sol.
Todo ele, uma galáxia. A Via Láctea inteira pulsando.
Mas poucos o viram. Nem foto foi feita, apenas
a misteriosa notícia se espalhando.
Finalmente, pronto. Lapidado em miríades
de sóis risonhos, ele tirava um pouco da respiração
de todo o Universo. Tudo se aquietava perante
seu brilho, seus desmesurados quilates, sua onipresença
perene entre os homens.
E anunciou-se que ficaria exposto na sala
imensa do maior palácio do mundo. Guardas,
códigos de segurança, vidros inquebráveis, tapetes
vermelhos, silêncio sagrado.
Mas o que expuseram ali – idéia genial,
precaução total, medo ancestral – foi apenas uma réplica.
Embora valiosa, não chegava aos pés do original.
Apenas uma idéia do tamanho e da imponência.
Mas romaria se formou às portas do palácio.
Reis, príncipes, marajás, sultões e xeiques
punham sobre a jóia abismados olhos soberanos,
logo imaginando a posse, o poder eterno.
Assim é, também, com o ser humano.
Ele anuncia um coração puro, grande, generoso,
secretamente cultivado e burilado.
Nele cabem catedrais de emoção, palácios
inteiros de amor, toda areia do deserto de alegria.
Mas, quem jamais o vê? O ser humano expõe apenas
um simulacro do seu coração imenso. O
verdadeiro, ele guarda para o evento singular,
a ocasião especial, para outro ser que ele imagina merecer.
E a vida inteira fica assim. A imitação servida
aos olhos curiosos, aos amantes desviados.
E o verdadeiro coração, lapidado em mil
faces luminosas, fechado em algum lugar incerto.
Resguardado até da fértil terra suja que forjou
por milênios a beleza transcendental, o valor descomunal.
Um diamante brilhando para nada e ninguém.