Defino-me com uma palavra,
acordo do mesmo lado da cama,
sei três nomes de constelações,
corri cem metros em um dia.
Tenho hiatos horríveis na lembrança,
li um livro que se apagou como a vida,
acuso uma falha na arcada dentária,
não aprecio balé clássico,
o capô do carro aberto engole todas as
filosofias.
Pouco entendo de inglês,
matematicamente sou zero à esquerda,
não me pergunte sobre música barroca,
deixo passar a questão de física quântica.
Mais ou menos atento ao dia a dia, perco a noite.
Se apertar o coração, o ventrículo vira aurícula,
e respiro uma influência desmaiada do alemão.
De tudo que sou, nada vai além do que
podem rir de mim na esquina, na roda, na festa.
Salvo dito em contrário, o inferno são minhas
ilimitadas limitações.