A filosofia dos ingênuos
a política dos leitores de jornal
fotógrafos crédulos
do mundo real
na composição da matéria
numa teoria esplêndida
fascinante e sobretudo inútil
para me explicar
minhas percepções
indefinições, aflições e afins
eu hoje só olhei pro céu
pensei em pessoas que não estão próximas
andei em zigue-zague para pegar o sol por entre as
árvores
Eu não chorei nem sorri com vontade
A insatisfação com esta vida
não surgiu neste século
nem vai sumir no próximo
Eu estou
disposta a chorar
sem motivos
E também posso muito bem
almoçar sem estar
com fome realmente
Só não vou de fato
amar eternamente a minha vida inteira
Antes que o amor termine ainda em vida
para que a vida não se esvaia com o amor
Me convenço então,
crédula que sou de mim
De qualquer forma
eu posso morrer de uma hora para outra
sem sentir dor
antes da madrugada
Ao passo que cada dia findo
dói um pouco
Enquanto esse amor
ainda que me alimente a cada dia
não me será arrancado como um fôlego de vida
num repente
Cada vez que fecho os olhos
e volto o olhar pr'além de mim
posso sentir as vozes
através da memória: fantasmas?
(não me são possíveis palavras
diante o inacabado
futuro negligente desta história)
não há perguntas
e as constatações só contêm
formas distorcidas da verdade:
borrões inteligíveis,
saudade cortante amordaçada,
indiferentes corações aflitos
o silêncio é a maior mentira?
E, de qualquer forma,
posso nascer sem mais nem menos
para outra vida
O dia vira noite
noutro canto do mundo
E mesmo sob outros horizontes
posso ter ainda a mesma perspectiva
Se meus olhos fecham
Se se abrem
...esse sol por entre as árvores
tem qualquer coisa de infinito
como os nossos dias
por enquanto
Esse sol por entre as árvores
tem qualquer coisa de amor
e qualquer coisa de desencanto.