ALAGADIÇO
- a volta do homem
que chorou ao sair do interior -
I – A PARTIDA
Céu escuro,
assombradado,
por um dia alagadiço,
as poças vermelhas,
respingadas,
de gotas jogando tainha
salpicam sangue, saudade
do dia em que fui partida,
caminhado, via a Capital...
Maninha de dedos abertos
jogava “seu capitão”
Daniel com bolas de gude
mirava céu com a mão
Meu pai de pele enrugada
cuspia pra não chorar
Minha mãe, Salve-Rainha!,
contava o terço a rezar
ajoelhada com Zefinha.
A primeira namorada,
assou milho, bolo de fubá,
deu beijos com gosto dela,
águas de cheiro tão dela,
santinhos pra toda reza
na mochila eu carregar...
II – A CHEGADA
Céu escuro,
assombradado,
trovoada de São José.
O tempo colhe as espigas
do milho plantado no chão:
— Voltei para o São João!
sem terra, sem corpo, sem fé,
sem poder ficar de pé...
Sertão, pai de olhos sem chuva
Sertão, mãe de terço comprido
Serão, namorada com os filhos
Sertão, irmão tão desenxabido
Sertão, chuva das carpideiras,
memento de luto fechado
terra sem viço, terra do filho
que meteu o pé na estrada
sem nunca fugir de casa.
Quatro cantos, ladainhas
Quatro velas, caixão fechado
bandeiras à meio-pau: feriado!
Não quero ouvir o lamento
da voz lerda do Vigário
fingindo dar extrema-unção.
Quero ouvir Zefinha dizendo:
— Meu filho, tô com idade
tô passada pelo tempo
chorando tanta saudade.
Abre os olhos para mim,
quero ser sua cidade!...
Djalma Filho
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