Globalização, que coisa interessante.
O mundo todo se conhece sem nunca ter se visto,
Todos sabem de tudo, sem nunca ter vivido,
O mundo todo se comunica sem ter trocado saliva.
Todo mundo se conhece, mas ninguém sabe de verdade como o outro
é.
Mais interessantes ainda são esses elementos globalizantes:
Tem internet,
Na internet, o chat,
No chat, os chatos,
Letras erradas,
Imagens falsas,
Falsários de si mesmos.
Fingem que são,
Fingem que sabem,
Fingem que têm amigos,
Fingem que têm.
Fingem, meramente fingem.
Um metro e cinqüenta vira um e oitenta,
Morenos viram loiros, loiros ruivos, ruivos negros,
Olhos negros, pasmem, passam a ser azuis, verdes...
Pobres viram ricos e ricos, bem, esses moram na lua.
O fusca vira BMW para os mais modestos - afinal também não
se pode fingir tanto assim.
Também não se finge sapiência.
E é curto o tempo.
Os dedos são ágeis, isso sim, é verdade, e as
letras vão se perdendo.
Mas fingi-se que é feliz.
Depois, no meio da multidão, esbarra-se nos @ da vida
E fingi-se mais uma vez.
Tomando café no botequim da esquina, olha-se para o garçom,
Que tinha olhos verdes – negros atrás do balcão -
E diz: sim, eu tenho muitos amigos,
Mas, hoje, não sei, decidi sair só.
Ana Cristina Almeida Vilela