Livro não morde
Quando muito voa
Às vezes intriga, corrói a idéia falsa que temos
de alguma coisa
Ou alia um saveiro secreto
E uma bandeirola com desenhos de besouros verdes
Livro não morde
Quando muito chove
faz o leitor tremer na base com espontânea regressão calcada
Ou fia um túnel sósia
E uma ostra sem nácar e sem velas janelas azuis
Livro não morde
Quando muito ilha
Às vezes erve para calçar estantes cheias de cerâmicas
dolorosas
Ou adia uma pegada íntima
Pedra para se pôr na algibeira esperando pelas asas
Livro não morde
Quando muito viça
Serve para escorar tocos de velas ou aparar raspas de sol nos buritis
Ou cria diagragma de sal
E palavras novas com calhas de abstrações e chaveiros
Silas Corrêa Leite
Do livro: "Antologia do 1º Concurso Blocos de Poesia", Blocos, 1998, RJ