Uma taça de vinho! outra taça de vinho!
E eis um alexandrino etílico composto.
A procura do poema é um delicioso mosto.
Melhor só mesmo o amor - que não bebo sozinho.
Eis que me fere amor com seu mortal espinho
e me deixa indeciso entre êxtase e desgosto.
Ai, que amor é uma rosa a rolar-me no rosto,
uma fermentação de música e de arminho!
Turvo mar que me sorve, árduo céu que navego
à luz da láctea estrela, ébrio de nebulosa!
Turva luz, árdua luz de um sol que afirmo e nego!
Deixa-me contemplar-te a curva esplendorosa!
Oh! deixa que eu me perca em ti, súbito e cego,
como gota de vinho em cálice de rosa!
Anderson Braga Horta
Do livro: "Pulso", Barcarola Editora Comunicação,
2000, SP