POÉTICA
Deixe que a mão escreva.
A cabeça está velha, está cansada,
cheia de pensamentos gastos e de idéias senis.
Não há mais mata atlântica
nem floresta amazônica
nem sertão bruto.
Há estradas asfaltadas, esclerosadas,
trabalhadas por preconceitos os mais vis.
Deixe que a mão escreva.
O coração viciou-se num certo número de emoções
e já não está disponível para sentir o
novo.
Cristalizou-se a melodia.
O belo já não flui.
O pássaro já não rompe a casca do ovo.
Deixe que a mão escreva.
A vontade amolece ao peso dos desejos
e se desfibra e verga a orgulhosa cerviz.
Onde era força, ou a ilusão da força,
agora não há mais
que informe cicatriz.
Deixe que a mão escreva.
Anderson Braga Horta
Do livro: "Pulso", Barcarola Editora Comunicação,
2000, SP
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