Sinto-me assim,
como em dia de colheita.
Livre a voar.
Não preciso de asas, fico só na espreita
Pois meu sonho o faz por mim.
E ele vem bem assim...
Dançar em volta da fogueira,
Noites de música, cheiro do mar
Perto dali,
Na selva densa, escura e tensa
Na noite, a lua a cintilar
No centro, o fogo a trepidar
Caldeirão de ervas, incensos e chás
Bebidas etílicas, o vinho a derramar
Mulheres vestidas de brilhos
Pele macia, o profundo do olhar
De felina selvagem, de animal no cio,
lábios molhados, decotes ousados
Cobrem-lhes as espáduas
Negros cabelos ondulados
Caminham em seus passos sensuais
Trazendo consigo, a alma dos imortais
Insinuando que suas entranhas são fecundas
Esgueiram-se entre os homens
Em danças provocantes
Mexendo sutilmente os maliciosos quadris
Fazendo-os, de dóceis cordeiros
Seguem-nas apenas com a vista,
Nunca as perdem de vista.
Querem agarrá-las com suas mãos grosseiras
Comê-las com os olhos
Aspiração incontrolável de montá-las.
Mostrar-lhes toda a sua capacidade
O poder de sua impetuosidade;
A noite cai reluzente sob o luar do solstício
Em meio à música e o movimento
A bebida e a dança,
Elas disseminam seus ares
Exalando seus cheiros de luxúrias
Lambuzando-lhes com suas umidades
Anseiam pela colheita do sémem
Para no próximo verão desabrochar
Eles encostam-lhes as mãos,
Agarram-nas com voluptuosidade
E elas em luta, anseiam ser domadas
De querer ser o que se quer ser
Só animal, só instinto .
Entre brumas e névoas
Em um canto, na relva
Molhada do orvalho
Nuas, em total devassidão,
Entre orgasmos exultantes e
Gritos alucinantes de prazer.
O tempo se escoa
Entre a música, vinho e movimentos
Ora simétricos,
balançando sob o mesmo compasso
Ora cavalgadas selvagens
Montados como perfeitos animais
A brisa chega de mansinho,
A música não tem mais cor
O vinho acabou. Perdeu o sabor.
A fogueira jaz encoberta de cinzas
Gemidos, pequenos sons vindos do espaço
Trepidar de galhos a cair,
Um aqui outro ali.
Leves como a bruma a lhes cobrir
Corpos suados, homens cansados,
Inteiramente esgotados
Mulheres nuas, deitadas na relva
Entre cabelos emaranhados e olhos fechados.
No solstício de verão,
Éramos chamadas de bruxas.
Que encanto, que sortilégio.
Da magia, ouvir novamente
O meu nome a soar.