o homem das letras não dorme
interneteia
passeia com sua solidão agarrado a um camundongo
qual alma penada
arrastando a madrugada
pelos ícones do vale do silêncio
cemitério de silício
quando é seis e meia, o homem das letras se dá conta que ainda não quer dormir...
talvez ele não possa
talvez ele não queira
talvez ele precise que seja assim
talvez seu travesseiro seja menos confortável que um mouse-pad
o homem das letras não cede: vence o sono mais uma vez
(ou será que foi vencido?)
o www-ponto-homem-ponto-só-ponto-br
de repente sai de seu sítio cibernético
levanta da executiva e se debruça no muro
como o sol
que levanta e debruça seus raios no morro
transporta seus olhos de vidro da janela virtual
e os descansa num mundo mais real
Chega de impressão 300 “DePrê-I” em papel vegetal!
O homem das letras sai para a rua e passa bem.
Passa o padeiro trazendo bom dia;
Passa Maria com trouxa pro rio;
Passa Raimundo puxando a carroça
trazendo no lombo o mundo da roça;
Passa a vizinha e seu cheiro fica...
Por fim passa seu Zé, que velou o sono dos justos da rua...
Mas a insônia foi injusta, mais uma vez,
com o homem das letras...
Mas Deus não ajuda, quem cedo madruga?
J. Ninos