A PINGA E O SUJEITO

eu era homem já
vô Tódim chegou e falou pra mim: toma pinga
eu falei que trem é esse vô
provei
falei
ocê esqueceu de pôr sicupira pra gargarejar
ele falou
sicupira tira
pinga pira

sentei fui bebericando cada vez mais ia gostando
aquela quentura como se tivesse comendo ovo
aquele ardido como se tivesse estourado uma pimenta
fui vendo a grama cada vez mais linda

entrei dentro duma taturana
fiquei todo peludo e sacana
aproveitei e fudi duas formigas cabeçudas
que gritavam prum borrachudo: não
me ajuda não
me ajuda

enfiei o pé numa pedra pontuda
vi o sangue brilhando num pé de arruda
era tão vermelho
que o pica pau foi pra dentro mais cedo

até conversei com uma andorinha
que veio com pernas de homem
e me contou o segredo da penugem
disse ela que era pele de anjo
esse manto de fofura
que anjo bom às vezes chora
o outro fura

fui pra cozinha e fiz cristais de carne
cortei um copo d¹água em doze pedaços
um eu engoli com um santo
outros pendurei nos braços

jantei o reflexo da lua
que latejava no meu prato
meu vô ficou me olhando e gritou:
ocê já tá poetando bicho desgraçado

Carlos Edu

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