Represar um rio é impossível.
O rio insulta a barragem.
Se sustém uma folha calma de lago,
amplia suas pernas de Heráclito.
Veloz, recortará efígies das escarpas
e nas curvas fará ondas de mar.
Mas se segue da nascente à foz,
na outra margem é que está a flor.
Não é pisando em peixes
que conseguiremos atravessá-lo.
Largo, pinguela nele não cabe,
ponte não nos dará conhecê-lo.
Não seria sábio auscultar
o diário vai-vem dos pássaros?
Com os braços dar forma
ao nosso sonho de asas?
De dentro domá-lo para sempre
com um simples remo?
Sidnei Schneider
Do livro: "Plano de Navegação", Dahmer, 1999, RS.