Meus sentimentos em posição de sentido, passo em
revista.
Repasso para marcar presença, qual é a ausência?
Sinto falta do orgasmo — não um qualquer — e sim o libertário.
Totalizo no final a culpa dos infortunados, o que fazer?
Qual é a culpa da liberdade?
Qual é a liberdade sem culpa?
Quem – ou o que– quando está preso sempre sonha com a fuga.
Os desejos mesmo antes de sê-los, são condenados.
-A vida não é só gozo, é também desgosto
–insistem uns.
-A conformidade teatral é a boa política –insistem outros.
Mas grito que não quero, que não agüento a solidão.
A solidão de um beijo distraído, de um gemido morto.
Abram-se as janelas, as portas!
Destelhem-se o que nos protegem.
Vamos gritar, de cio, nus e sem máscaras.
Dê-me seus seios agridoces, estou com fome.
Para que poupar tanta energia?
Quero tratá-la com indecência agora e um pouco mais além.
Jogá-la às minhas feras, no circo da impiedade, sem normas,
sem horas.
Não me venha agora mostrar-me o roteiro dos seus deveres.
Para que esconder?
Tire o lenço do pescoço, afinal você não
é francesa.
Vão rir de suas marcas pelas ruas e chorar em suas casas, os
coitados.
Então sorria largo e desfile...
De uma forma ou outra sempre estamos em revista, então?
E se você gostar.
E se eu não agüentar?
— Peitos para fora, cabeça erguida, em posição!
Vamos nós outra vez...