O mendigo,
no viaduto do vazio,
na esquina da nulidade,
entre o nada e coisa nenhuma,
deitou-se,
sob o teto de zinco das estrelas.
cobriu-se
de pétalas de seus sonhos
e adormeceu.
Acordou morto.
jazia na eternidade do acaso.
Mais tarde,
seu esqueleto foi usado
para dar aulas de anatomia
numa faculdade de medicina.
E assim,
pela primeira vez na vida,
o pobre mendigo
sentiu-se útil.
Mário Annuza