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para Leila Míccolis

Frias e frívolas pessoas...
Ando sedenta, faminta,
exausta a não ter mais como,
mas vocês acham
(me passam
num silêncio de abandono)
que isso não tem nada a ver.

Por sorte não me verão
no inverno, na primavera,
colhendo de grão em grão
o que outoneio na pressa
de lhes dar o que comer
além do pão com manteiga
ou com caviar,
depende
do paladar de vocês.
De mim nada vão saber.

Nem dos bichos que alimento,
tirando da minha pena
e, muitas vezes, da boca
o indispensável sustento
que nem mesmo me faz falta,
pois vivo do pensamento
de lhes dar, caras pessoas,
o que em sua mesa transborda

mas carece ao coração:
amizade à toda prova,
fraternidade, igualdade
por uma existência nova
em que todos tenham à mesa
fartura do mesmo pão
cultural, por excelência,
voz e vez para os carentes
que são, de direito e fato,
seus consangüíneos irmãos:

nossos irmãos, com certeza,
ou vocês se acham melhores
por portarem pedigree?
Muitos dos meus
cães e gatos o
su’portam, e abandonados
por ex-enfarados donos...

Se aos animais me devoto,
como não me ocuparia
dos próprios seres hu'manos
que vejo batendo às portas
com fome, com sede, insones,
exaustos, como me encontro
(por outro tipo de banho)?

Ainda sonho com cascatas
dentro dessa mata virgem
que, de bandeiras e entradas,
ou vice-versa, persiste
mas como selva selvaggia,
de pedra, se me permitem
(a contrapelo) o sermão
da montanha, que fez Cristo
clamar bem-aventuranças
para os pobres em espírito.

Essa pobreza comporta,
em simples poça, um oceano
com toda sua fauna e flora
e arrecifes de corais!

Distintas, mas tão simplórias
pessoas que não se importam
com o que se passa à sua volta
e o que já ficou pra trás...

Além, muito além das serras
que ainda azulam no horizonte,
entre o céu, a terra
e a árdua
batalha de um dia-a-dia,
mais mistério há do que possam
sonhar suas vamps personas
de VIPs filosofias.

Maria do Carmo Ferreira

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