No dorso
luminoso
da manhã
procuro
o espólio
de teu canto
e os nomes
alusivos
do segredo...
essas
montanhas
fúlgidas de névoa
bebem
a sombra
de teu imane
raro
precipício
onde
se abeiram
roseirais do medo...
procuro
nas alturas
um resquício
do bem supremo
e grave
que perdi
e já não sei dizer,
mal reconheço,
o nome
dessa perda
que me abrasa...
procuro
no sabor
das outras línguas
o verbo
escuro
de tamanha ausência
procuro
estranhas teologias
tratados de botânica
e alquimia
(a sombra lúmina!)
para fazer da noite
meio-dia
procuro
em inefáveis geografias
o náufrago lugar
do não-lugar
onde se esfaz
a sombra de uma sombra
e assim
procuro a luz
que me confunde
e segue
essa procura
a procurar-me
Marco Lucchesi
Do livro: "Poemas reunidos", Editora Record, 2000, RJ
Enviado por: Márcia Maia