O dia deu em chuvoso
na geografia do poema.
Um corpo virou cinzas
um sonho foi desfeito
e mil povos proclamaram
— Não à violência!
A terra está sentida
de tanto sofrimento.
Na geografia do poema
as bandas tocam
“b”, ou “a”
passam na TV
os seres nus
o pátio aglomerado
o chão vermelho
onde a regra do jogo
da velha é sentença
marcada na réstia
do sol quadrado.
Pelas ruas
a tristeza dos tempos
a impossibilidade do abraço.
Crianças choram
nos corredores da morte
meninos e meninas
nos becos da fome
consomem a miséria
matéria prima
de sua sobrevivência
Nos quarteirões
dobrando a esquina
homens e mulheres
idôneos, cansados
a lastimar o destino
de esmolar o direito
dos tempos madrugados.
Se o medo se espalha
virá o silencio
e as cores sombrias
o espectro das horas
Se o medo se espalha
amargo será sempre
o verbo
No entanto
haverá manhã
e a paz cobrirá
com seus raios de luz
a rosa dos ventos.
Amanhã haverá manhã
de sol a sol festejar
o pão de cada dia