Um olhar inalterável.
Meio mulher, meio santa!
Maria, estuprada, condenada,
santificada.
Maria perdeu a passagem inevitável
da sexualidade,
Maria adúltera, guia de cego,
inativa, prestativa, infiel
às Marias.
Seu nome, múltiplo denominador
comum.
Nascem Marias divinas e incompletas;
Evas pecadoras, Messalinas dissolutas
e putas; Marias gestantes parindo suas
vidas e Madalenas resignadas.
As Marias dos lares, ruas, templos,
bares e babys são uma fração dos
sentidos, tentações, te(n)sões e ais
refrações dos mais íntimos segredos.
Maria escolhida no mercado de mulheres
sem direito à resistência.
O ventre alugado, um trono reservado,
confinada a uma compulsiva omissão
conjugal.
Submetida ao cativeiro.
Nossa Senhora a serviço de todos!
Sandra Fernandes
Do livro: "Circuitos Femininos", Ed. Blocos, 20001, RJ