ÁLVARES DE AZEVEDO
o vigésimo ano das angústias foi computado
a verificação feita, o enigma revelado
tal qual o grande poeta de“O Século”
apenas quatro faltam para o fatal encontro
com a morte final
passei a vida cantando minha lira maldizente,
não tive amores
tive filhos
e dores...
não tive sonhos
vi minhas quimeras sumirem com a poeira da estrada
não tive paz, tive a correria das galés em tempos
de pirataria
meus amores foram como vapores inefáveis, indizíveis,
simulacro, espectro de gente
gente que não existe
gente que não sente
não ama e lividamente me observa
e percebe o que me tornei
um fâmulo da vida
sem vida.
BALANÇO 2
GOETHE
não vejo em mima faísca do “gênio borbulhante”
paraespalhar livros, “livros à mão cheia”
que faz o “povo pensar”
semeando na alma e fazendo um batismo de luz
fecundando a multidão
“como um perfume de longínquas plagas”
vejo-me em frouxa penumbra
vejo-me um vulto incerto
meu grito corre marmóreo no espaço
buscando o esquife devasso
que abriga a solidão
a imaginação é infértil
os vôos ficaram na terra
não alcanço o brilhante condor
restam destroços de uma vida
na certeza dolorida
da eternidade
e mais ... não!
Lucy Nazaro