POEMA LÍRICO
(fragmento)
No meu poema lírico
a noite vestia-me de solidão
e a morte falava na voz do vento
com inumeráveis bocas de sombra.
Envolvia numa linguagem de silêncio
o amado corpo de anêmona da amada.
O mar era uma canção molhada em seus ouvidos,
verde sonolência em seus olhos.
Uma rosa demente de sol
gorjeava nas trevas repousadas
dos cabelos da amada no meu poema lírico.
Vi o pássaro mensageiro de tempestades,
anunciador de eclipses da lua,
incendiário de primaveras
e cantei sua morte prematura
num epitáfio de vôos e distâncias.
Janeiro chegava bêbado de azul
nas crinas de um soneto
que rimava tarde com arde
no meu poema lírico.
A rosa estava morta na mesa,
fria, intacta, alheia
ao olhar que a consumia,
à mão que lhe feria a carne,
à boca que a chamava rosa.
Rosa: ilha, incêndio, canção
no meu poema lírico.
Luís Carlos Guimarães
Enviado por: Nei Leandro
«
Voltar