eu caí num abismo impossível de perigos
embora alto e úmido
e apertei os seus dedos com força
que era assim como devia ter feito toda a vida
sem medo de outras reações
desmaiando para ser romântico
a face pálida
até sentir a sua preocupação
voando sobre minhas infidelidades
mas não é compreensível
que deseje-o para todo o sempre
e acaricie as pernas de um estranho
com um olhar de montanhas e luas
sem cercas ou propostas
eu habito em uma enorme quantidade
de sombras
e acendo um cigarro, tomo um uísque,
fumo qualquer coisa que me deixe enxergar você
como um retrato renascentista
dá-me as tuas pernas arcadas, a pele
macia e frases que brilhem o meu espírito
mesmo que nada signifiquem no dia seguinte
dá-me um gato para que eu cuide
e saiba que veio de você
ou uma planta que morra de sede
para que eu minta falando
como cheira e floresce
e represente os nossos encontros e desencontros
pois a vida é curta
e imensa,
depende de batalhas e desejos,
e logo em seguida
depois de que você passou na minha vida
por um erro feito por nós dois
em qualquer noite equivocada,
conto como te amei para um estranho
e ele debocha do meu passado
e não sei se minto ou falo sinceramente
será que fomos únicos alguma vez?
não creio que você existiu na minha vida,
mas encontro um fio do teu cabelo numa camisa
e um cartão com palavras bonitas
escritas num dia que você só pensava em mim
e o confidente se emociona
e eu sofro porque sei que você não existe,
mesmo não conseguindo deixar de reconhecer
seu cheiro no meu silêncio.
Antonio Júnior