Quando me esperas, palpitando amores,
e os lábios grossos e úmidos me estendes,
e do teu corpo cálido desprendes
desconhecido olor de estranhas flores;
quando, toda suspiros e fervores,
nesta prisão de músculos me prendes,
e aos meus beijos de sátiro te rendes,
furtando às rosas as purpúreas cores;
os olhos teus, inexpressivamente,
entrefechados, lânguidos, tranqüilos,
olham meu doce amor, de tal maneira,
que, se olhassem assim, publicamente,
deveria, perdoa-me cobri-los,
uma discreta folha de parreira.
Artur Azevedo
Do livro: "Livro do Corpo", L&PM, 1999, RS
Enviado por: Márcia Maia