O leite cru dos gerânios
armou-se em sóis e orvalhos
nos olhos negros do homem.
A égua enfeixada em músculos
de mil vigorosos poemas
branca e lisa como o mármore
rompeu a calma da sombra.
Na terra a saúde brinda
a paz do homem que passa
paz de passo
aço
e manso
de muitas idéias claras
claras esporas de prata
como os galos da manhã
que farão as alvoradas.
A face e os olhos negros
o líquido sangue esvaído
deitaram sobre as estrelas
que brilhavam surpreendidas
daquela cena em Granada.
II
Ao longo além esplanado
na certeza bruta do olhar
doze lírios apontados
brotaram vermelhas pontas
tombadas do lábio manso.
O céu tecido de azul
de regatos e de touros
subiu-se desentranhado
em partos de terra
em Granada.
(A medusa quis ser plátano
a palma quis ser cegonha)
III
A manhã nasce sozinha
como morreu o gitano
(mas no ventre vem a luz)
como luz trouxe o gitano
na palma clara das mãos.
Desceu-se mineralmente
sob o solo de Granada
dos poemas subterrâneos
flores nasceram vivas
sobre o solo de Granada.
Flores roxas como o vinho
- líquida poesia
que o coração do poeta
armado
petrificado
semeia pausadamente
com seiva e leivas de sol.
IV
Nas águas - extensos peitos -
no cascalho e na maré
no manso coito das plantas
onde existir o poema
seu nome será lembrado.
Onde a morte houver em luta
onde luzir a alegria
a água
fria da calha
a ardência
de um alambique
em luta contra
o inverno
seu nome será lembrado.
Tarso Fernando Genro
Do livro: "Luas em Pés de Barro", BELS/SEC, 1977,
RS
Enviado por: Lau Siqueira