É o Super-Homem dando voltas
contrárias ao redor da Terra
para retroceder o tempo
São os ponteiros dos relógios
refazendo horas nas
paredes dos escritórios
São as oito longas arestas
que ressurgem das ruínas, uma a uma
entre os pavimentos, até atingir o céu
É Mandrake com a cartola nas mãos,
olhos e dentes cerrados, encadeando as
sílabas mágicas numa cabala doída
É e. e. cummings construindo sobre o
tablado duas sílabas, o Homem-Borracha
esticando para alcançar as letras que caem
É o mantra-gerúndio: que o passado ressurja
agora, dominós se ergam, cartas de baralho,
lajes de concreto retornem ao lugar
São Whitman, Thoreau e Ginsberg
escrevendo a palavra: V I D A
soprando-a em uníssono das colinas,
sobre as pradarias, do topo das sequóias
à ponte do Brooklyn
O vulto veloz de Kal-El rasga o céu da ilha,
o planeta gira ao contrário,
centenas, milhares, milhões de vezes
até os aviões pousarem de ré, prata silente
nos aeroportos de origem, sua fuselagem
sob os primeiros raios do sol,
e os passageiros, um a um,
aos fartos breakfast,
aos beijos de bom dia
às camas de seus sonhos
do dia anterior
Joca Reiners Terron
11/09/2001