Estrela-do-mar
Polvo, calamar
Agua-viva, agua morta
Mas o que importa?
Cumbaca, robalo
Do rio retirá-lo
Tucunaré na marcha à ré
Pirarucu é que não é!
Budião, krill, arrecifes e corais
Sardinha, xerelete, que mais?
Maria-farinha, concha e tatuí
Continuam a ser pisados por aí
Cholgas, ostras, mariscos
o bê esses, pê esses, asteriscos
Qualquer coisa que possa localizá-los
Nas encostas, nos mares ou nos ralos
Garoupa, carapeba, olho-de-cão
Saboreá-los é o cherne da questão
Guaiamuns e caranguejos atolados
Pelos mangues nunca dantes pisoteados
Camarão cinza, lagosta, siri patola
Pesca de rede, de faca e de pistola
Crustáceo, cetáceo, sereia
Qualquer maneira de pescar vale a ceia
Pescadinha, kani, carne de siri
Em Tóquio, São Francisco, Muriqui
Manjuba, arraia, prejereba
No prostíbulo e nos lares de Adis Abeba
A pompa estimulando a extinção
Arenque, caviar, ova de esturjão
A baleia na ponta do arpão
A toda ação corresponde uma reação
A represa impedindo a piracema
Boicotando a vida e o poema
Promovendo o milagre da subtração
Meio peixe, meio gole, meio pão
Tainha, corvina, linguado
Baiacu amarelado
Rio negro, rio pardo
Mar de lama, mar de cardo
O ódio nos dentes do tubarão
Um dia é da caça e outro é do cação
Um dia é da esquadra
E outro do peixe-espada
O degelo da calota
O QI do idiota
A redução da biota
Calarão o poliglota
A sede do peixe aparecerá
A fome dos seres se multiplicará
O homem com medo sincretizará
Com Cristo, Netuno, e Iemanjá
Golfinho, peixe-boi, boto-rosa
Piranha, peixe-mulher, rebordosa
A casa, a taba, a toca
Arrastadas pela última pororoca
O fim da truta
Felipe Cerquize