Tão magro quanto um palito
de fósforo não testado,
prestes a arder
a primeira e a última vez,
puxei da arma.
À minha frente era um corpo,
deformado, repulsivo,
que tanto podia brilhar
quanto expelir veneno dos poros.
Cheirava mal, a coisa estirada,
gerando versos covardes,
soprando douradas mentiras,
no esboço de mão semeando promessas.
Atirei.
Duas, três, quatro vezes.
E a fera apenas gemeu.
Continuava vivendo, e falando
de mim como se dela, e não meu
fosse o dedo no gatilho enganchado.
Monstro, besta e reflexo,
o irmão cuspia o meu nome.
E me ver, verme, vermelho,
nu de todas as faces,
desarmado dos meus personagens,
caí em desconcerto e náusea.
Meu rosto escorria no chão
ouvindo a evolução do gemido.
Risada febril, do bicho e da bala
que do cano da arma meteu-se na carne
até que o calor da carne esfriasse.
Aos pés do gêmeo não vi
o instante de sua saída.
Levava nos olhos os meus,
nos ossos a pele era a minha.
Na vida que esperava viver
cabiam todas as faltas,
podiam todos os crimes
e o mundo que se cuidasse.
Maurício Limeira