QUAE SERA TAMEM

Abre as asas sobre nós
Ainda que seja tarde
Desamarra estes meus nós

Permite-me dobrar a esquina
Sem ver mais uma chacina
Deixa-me alimentar o sonho
De que tanto me envergonho

Desce as asas sobre nós
Acolhe-nos e protege-nos
Mesmo que estejamos sós

Incentiva-me a repartir
Dá-me a dor de consciência
Dá-me a tua sapiência
Faz-me enxergar o que é óbvio

Tu que enfrentaste a História
Que partiste na ascenção
Não nos permitas a morte
Sem saborear tua glória

Fecha as asas sobre nós
Não deixes que a fúria  fira
Não mandes a desesperança
Rufla o máximo que possas

Sorri para mim ao acordar
Faz chover no semi-árido
Controla os aluviões
Dá fartura aos embriões

Elimina o sensacionalismo
Dá chance a todo artista
Defenestra o mercenário
Que quer o nosso salário

Solta a pluma sobre nós
Para que enxerguemos cores
E sintamos teus olores
Avoluma a tua voz

Ajuda-nos a ver o rosto
Dos que pregam o oposto
Dos que usam o teu nome
Mas que distribuem a fome

Que desabe sobre nós
Cada ruga de tua personalidade
Cada marca de teu sofrimento
Para que tenhamos tua consciência

Tudo pode mudar facilmente
A fragilidade é a tônica da vida
Todas as conquista nada significam
Novos rumos podem debilitar os inatingíveis

Fecha as asas e protege-nos
Não nos deixes aqui sozinhos
Reverbera o teu exemplo
Para os vendilhões do templo

Não te acanhes com a ameça
Constante que te fazemos
Põe ao largo tua asa
Distribui tuas penas

Derrama teu sangue quente
Sobre cada um de nós
Cicatriza tua ferida
No calor das nossas vidas

Ignora todas as chantagens propostas
Desce batendo as asas com a força exata
Nem tão forte que nos tire o norte
Nem tão lento que nos tire o vento

                                                                           Felipe Cerquize

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