Se em muita fronte que parece calma,
Se em muito olhar que límpido parece;
Se pudesse notar, ler se pudesse,
Tudo o que n'alma existe e vive n'alma!
Entre essa paz fictícia que se espalma
No rosto, a inveja, raro transparece;
Ela que à glória alheia se enraivece,
E que às alheias lágrimas se acalma.
Alma, vítima dessa enfermidade!
Mal sabes que à dos outros sendo adversa,
Tu és adversa à própria f'licidade!
A inveja os risos todos te dispersa:
Menos ódio merece que piedade,
Porque és mais insensata que perversa.
Raimundo Correia
Do livro: "Antologia de Poesia Brasileira - Realismo e
Parnasianismo", Ed. Ática, 1985, SP
Enviado por: Renato C. Capellari