A serpente do til
sobre teu
dorso, cão. É
pouco o sonoro
nome, a lâmina
do faro, mesmo
essa rebeldia
de mijar todos
os postes. O horizon
te é largo em más
caras poligástricas, confinado
à estreiteza desse abrigo,
não tens todos os cios
das cadelas, outros bichos
ciciam teus ouvidos.
És
um cão não casadoiro, meu
todo teu arterial ladrido rasga
a noite em flâmulas
e ódios. Grita-me
a razão um desconchavo:
– Ama o animal, a brevidade,
que anima
é coisa não provada
em tomos de tratados!
Cão, eu não o quero
sevandija simples biológico!
Crudelíssimo, ó cão,
pagar tão pouco
pela tua imensurável fieldade,
quando há homens
que nos legam ferro e fel
em paga desse beijo e desse sangue
derramados. Cão, não é C A N I S
esta palavra escan
dida – duas sílabas
de fácil conjugação –
a mola desse
sentimento radical.
Eu não o quero assim
pontiagudo. Gosta-se
no mundo até dos brutos sólidos!
Quem dirá? Charcos
de certeza imperturbável:
a besta humana quando ama
é de amor invertebrada.
O teu afeto em alma
chã, cãoão, porque de venerar
tu te vinculas ao afago,
ao minuto em que te passo
a mão pelas orelha.
Tamanha tua ingenuidade:
talvez onde haja
rugas te pareçam
um monturo de ossadas.
Porém tu te perfilas
balançando a safadeza desse rabo.
Camarada inconseqüente por lamber
o feixe dos meus nervos, cão
ão eco,
que não deves ser eterno
— vira-latas ou dentuço guardião.
Pois então, sus! Como quem diz: "Leve-te
a salvo a terra ou o diabo!",
raspa-te do asfalto ao brusco
freio! Raspa-te da fúria
dos cosmopolitanos caçadores!
Foge ao vitrificado pão, à cortiça,
ao veneno que te atiram, cão mortal!