Uma das coisas que me fazem ficar por aqui
É a lembrança do cheiro da Mata Atlântica
Gosto da cadência das palavras que se pronunciam
Gosto de cada pessoa que gosta da nossa Lagoa
A orla que vem até nós vira Leblon, vira Ipanema
Mas eu gosto mesmo é de ir aos confins
Nas praias escondidas pelas montanhas
Praia do Meio, Praia do Perigoso
Gosto do modo espontâneo e prestativo dos cariocas
Capazes de defender o indefensável
Em nome da amizade e da cerveja
Um coração em cada copo e uma alma em cada violão
Tenho saudades dos amigos que não conheci
E dos shows no Morro da Urca, quando pegava o bonde da história
É impossível não reparar as axilas do Cristo
É impossível não ver a Restinga do avião
Beco das Garrafas, homens com tarrafas
Gente preocupada em dar o melhor de si
O arrastão e o bonde têm o seu lado bucólico
Mas também se evidenciam nos contrastes sociais
Rio de Janeiro, gosto de você
Quero você exatamente desse jeito
Quero que me permitam atravessar os seus morros
Para saber o que se passa do outro lado da cidade
Aprecio as suas baías
E os restaurantes que sobrevivem às custas delas
A Quinta no domingo e a feijoada no sábado
O churrasco no quintal aproximando as pessoas
Tanto faz jogar conversa fora no Bracarense ou no cospe-grosso do subúrbio
O que sempre valerá é o espírito solidário
dos iguais que se reúnem por lá
Se a promessa de vida não vem até nós, nós
vamos até ela.
Se alguém não nos permite a amizade, nós o persuadimos
Saudades do cheiro da Mata Atlântica
Sempre mais forte no verão
Anunciando um Carnaval
Que acontecia na rua e no salão
Saudades de tudo, inclusive do futuro
Aquele que imaginei que teria quando completasse quarenta anos
Aquele que concebia associado à realidade da minha juventude
Com os mesmos amigos e amores daquela época
Sumaré, Grota Funda, Mendanha
Graça Aranha com Nilo Peçanha
A Avenida das Américas não acaba, nem nunca acabará
As Linhas Vermelha e Amarela nos mostram as nossas seqüelas
Rio de Janeiro, gosto de você