Esta mata
Mistura de azul, horizonte e verde
Portal de sonhos e beijos sôfregos
De paixão e de vinhos tintos
Estrada que se perde em cada curva
Como se fosse um abismo
Abrupto
Fim do mundo
Não pertence a mim, não pertence a você
Pertence a nós.
Neste mundo de redondilhas e sonetos
De baladas, de odes, de elegias
No qual vivemos
Como num lugar diferente, um paraíso particular
Onde maiakovskamos ternuras, texturas de pele
Pouco, muito pouco de nós se identifica com esse mundo de asfalto
e monóxido de carbono
No qual as pessoas se afundam e se asfixiam.
Biblioteca Pública
De silêncios de livros e de traças
Defronte dela
Eu sempre a encontro - mulher de olhos cálidos
E beijos ardentes
Fogueira que consome todas as palavras
E incendeia as últimas árvores nativas do Bosque.
F F
O O
L L
H H
A A
D D
E O
L P
O A
N R
D A
R N
I Á
N
A
Saudade da pequena cachoeira sem nome
Onde você ficou mais nua do que todas as vezes anteriores
Onde a amei sob a copa das árvores
Sob um céu deliciosamente delicado de prazer
Enquanto os passarinhos trinavam baixinho
Com medo de alguém perceber.
Ó ruas escuras, ó prédios em construção
Perdoai-nos
Se somos sombras trânsfugas no carro
Se amamos com paixão feroz
Sob a lua cheia de tesão.
Trigais dourados do sol da tarde
Enfeitam nosso caminho, essa estrada pequenina
A terra molhada, as árvores borrifadas, a umidade de sua vulva
ígnea
O perfume da chuva
Pélvis em fogo.
Da cachoeira enorme
Jogando afiadíssimas setas de água gélida sobre
nós
Pepeteleando-nos em várias partes,
Não nos esqueçamos.
Rio branco que desenha cenários incríveis para nossos
olhos
Encharcados de bebida e desejo
Rio claro que reflete o dissabor de não saber para onde vamos
E nos espalha por sete nascentes de segredos
Por sete canções azuis,
Não nos esqueçamos.
Seus olhos tão guimarães rosa
Me bandeiram, me viniciam
E eu cada vez mais leminski
Me entrego claricelispectormente.
Ah se eu oswaldear
De seus horizontes saramagos
Suas pupilas cecílias
Mandam-me pra lá de ferreira gullar.
Um quê de Marlene Dietrich passa junto com sua sombra fluorescente.
Entoa uma canção antiga de Piaf
Enquanto o vento lúbrico da tarde vem acariciar seus cabelos
Com dedos frios, com dedos frios
Diante das montanhas longínquas escondidas na névoa
Cheia de desejos imarcescíveis.
Bares nos quais bebemos nossa alegria e nossa angústia
Abençoai nossos copos
Abençoai nossos corpos.
Vinhos dos deuses, dos loucos, dos arruaceiros e dos poetas
Abençoai nossas penas
Abençoai nossas pernas
Fumaças silenciosas que misteriosamente pairam no fundo dos
bares
Embalai nossos sonos
Entornai nossos sonhos
Sobre esta mesa bêbada que toca Carmina Burana a noite inteira.