Meus poetas ficam me olhando da estante
Perplexos.
Tento sorver a poesia num só gole
Como a querer embriagar-me mais rapidamente.
Injeto nas veias o poder paranóico das palavras
Vertigem, ânsia de vômito, prazer
Por um tempo sou senhor
Depois sou nada, homem comum
No tédio do dia-a-dia.
Vício do qual não me livro
Droga que me faz ser outro
Disso somente meus poetas têm conhecimento.
Cocaína de versos que me faz vagar
Como um louco nas noites incertas
Sou herói de histórias em quadrinhos
Identidade secreta: poeta.
É por isso que me escondo
Que sempre sou outro
Nunca eu mesmo
É por isso que criei de mim mesmo
Esta imagem perfeita, respeitável
Sem máculas
Para que me consumam sem susto.
Mas que ninguém descubra ( segredo de meus poetas silenciosos)
O porão que há em mim onde escondo
Esta minha faceta abjeta:
Um ser viciado em poesia
Um ser de várias faces
Poeta.