Está caindo uma chuva de poesia na minha horta.
A poesia está batendo na porta, Carlos,
e pulando pela janela;
a poesia está me afogando em poesia.
Tem uma chusma de poesia no banheiro
e uma alca/teia na esquina.
A poesia parece o Nascimento de Vênus:
saiu nadando da piscina.
A poesia não deixa por pouco; a poesia
não deixa por menos: nobiscum mutambas est,
ou melhor dizendo, com “ela”, é no pau da mandioca,
no pau da goiabeira.
Meu deus, ela não pode fazer
isto comigo! Caí em decúbito dor-
sal.
A poesia parece nuvem de gafanhoto,
horda de guerreiros.
Está caindo uma horta de poesia na minha chuva;
ela é Pessoa restrita mas não se endireita:
quando cai, é sempre oblíqua e me leva con-
sigo.
Do livro: "Chuva de ouro"
Proibida a reprodução sem a prévia
autorização da autora